segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Águas de março análise_do_poema

Águas de Março

(Tom Jobim)

É pau, é pedra
É o fim do caminho
É um resto de toco
É um pouco sozinho
É um caco de vidro
É a vida, é o sol
É a noite, é a morte
É um laço, é o anzol
É peroba no campo
É o nó da madeira
Caingá candeia
É o matita pereira
É madeira de vento
Tombo da ribanceira
É o mistério profundo
É o queira ou não queira
É o vento ventando
É o fim da ladeira
É a viga, é o vão
Festa da cumeeira
É a chuva chovendo
É conversa ribeira
Das águas de março
É o fim da canseira
É o pé, é o chão
É a marcha estradeira
Passarinho na mão
Pedra de atiradeira
É uma ave no céu
É uma ave no chão
É um regato, é uma fonte
É um pedaço de pão
É o fundo do poço
É o fim do caminho
No rosto um desgosto
É um pouco sozinho
É um estepe, é um prego
É uma conta, é um conto
É um pingo pingando
É uma ponta, é um ponto
É um peixe, é um gesto
É uma prata brilhando
É a luz da manhã
É o tijolo chegando
É a lenha, é o dia
É o fim da picada
É a garrafa de cana
O estilhaço na estrada
É o projeto da casa
É o corpo na cama
É o carro enguiçado
É a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte
É um sapo, é uma rã
É um resto de mato
Na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra
É o fim do caminho
É um resto de toco
É um pouco sozinho
É uma cobra, é um pau
É João, é José
É um espinho na mão
É um corte no pé
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É um passo, é uma ponte

É um sapo, é uma rã
É um belo horizonte
É uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração




Chega dezembro e com ele vêm o natal, o reveillon, as férias, depois o carnaval... Na verdade, o ano seguinte só se inicia mesmo depois de encerradas as folias populares. Nada melhor que uma boa enxurrada para varrer as cinzas do ano anterior e então começar vida nova. Nada melhor que as refrescantes águas de março, que esfriam nossa cabeça para enfrentar mais um ano de luta... É verdade que, em cidades como São Paulo, com problemas tão graves como os de saneamento básico, essas águas são muitas vezes sinônimo de enchente, caos e até mesmo de morte. Mas isso não é culpa da natureza: cabe à cultura (no caso, aos administradores públicos, urbanistas e engenheiros) proteger os homens.
Certamente não eram as chuvas paulistas que Tom Jobim tinha em mente quando compôs "Águas de março". 
"É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
é um caco de vidro, é a vida, é o sol
é a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
é peroba do campo, é o nó da madeira
caingá, candeia, é o Matita Pereira..." 

O que temos aqui? Eu diria que um conjunto de elementos que lembram uma paisagem não urbana propriamente: pau, pedra, toco, a  HYPERLINK "javascript:void(0);" solidão, peroba, nó de madeira etc. São elementos de um contexto mais natural, onde quase não se sente a ação do homem. O "quase" que eu disse vai por conta dos seguintes objetos: caco de vidro, elemento que implica fabrico, tecnologia; candeia, objeto rústico para iluminação, a indicar, no entanto, que esse lugar tomado pelas águas de março não tem luz elétrica; e anzol, que, apesar de artefato humano, tem a ver com uma forma primitiva de relação com a natureza, ou seja, a pesca, favorecida decerto em tempos mais chuvosos, em que os rios ficam cheios. Índices de uma cultura mais ligada à natureza são ainda a referência a  HYPERLINK "javascript:void(0);" caingás, bem como pela referência ao  HYPERLINK "javascript:void(0);" matita pereira. Como vocês podem percerber, estamos a léguas dos centros urbanos, num espaço onde ainda vigoram lendas, personagens folclóricas, populações pré-modernas, como os índios, e onde são enfatizados os ciclos naturais, vida e morte, sol e noite:
"é um caco de vidro, é a vida, é o sol,
é a noite, é a morte, é um laço, é o anzol."
A letra de Tom Jobim é basicamente descritiva, repertoriando uma série de elementos que visam construir a atmosfera desencadeada pelas chuvas num ambiente mais rural. Sendo descritiva, não conta com uma progressão dramática, um desfecho. Essa estrutura descritiva é enfatizada pela reiteração intensa do verbo "ser", um verbo que serve, entre outras coisas, para dar atributo, qualidade a algo. Mas talvez esse verbo tenha um sentido algo ambíguo aqui. A letra já se inicia  HYPERLINK "javascript:void(0);" sem mencionar o sujeito a que se liga o verbo.
"É pau, é pedra, é o fim do caminho", e assim até o fim, com variação dos predicativos. Imaginamos que o que é pau, o que é pedra "é" as águas de março. Ou seja, "águas de março" significa pau, pedra, peroba do campo e tudo mais. Como dissemos, trata-se de representar a atmosfera úmida de março. Chegamos quase a sentir o cheiro da madeira molhada, a imaginar o corpo se refrescando (é o fim da canseira, como diz a letra). Mas, se é assim, por que o verbo "ser" não está no plural, para concordar com "águas", no plural? Podemos cogitar alguns motivos: convenhamos que repetir "são" a todo o instante ficaria um pouco exaustivo. Seria são pra lá, são pra cá, são acolá. A forma "é" está muito mais na ponta da língua, o que dá bem mais agilidade à música; além disso, o sujeito, "águas de março", é mais lógico do que sintático. Ele figura no título da canção, mas não na letra, pelo menos até quase o fim. "Águas de março" é o pressuposto do texto, mas não está estruturado nele sintaticamente. O título serve aqui para indicar o objeto de que se está falando. Por tudo isso, a concordância no singular é mais do que legítima. Tanto é assim que Tom Jobim, que não era bobo, coloca bonitinho o verbo "ser" no plural quando a expressão "águas de março" vem, no finzinho da canção, literalmente reproduzida no corpo do texto, passando de idéia de fundo a elemento de estrutura sintática, ou seja, passando de sujeito lógico a sujeito sintático:
"são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração. "
A concordância no plural tem o efeito de um resumo: todos os elementos relacionados nesse texto são, formam as águas de março. Note-se, no entanto, que o verbo no singular retorna: "é a promessa de vida". É como se se quisesse dar mais peso agora à "promessa de vida" do que às águas de março. O que importa mais agora é a promessa de vida. Mas você pode perguntar: isso também não se aplica ao resto da letra? Não poderíamos dizer que a letra quis mais enfatizar os elementos, os aspectos vitais ligados às águas de março, daí ter usado o verbo no singular? É possível. Há em toda a composição de Tom Jobim um apego a elementos variados, há mesmo uma espécie de desejo de fazer o inventário de um mundo já meio fantástico para nós, homens urbanos, para quem saci e índio têm algo em comum: a inexistência, o serem coisas do passado. Esse estilo de inventário acaba como que dando relevo ao detalhe, mas sem prejuízo de dar conta do conjunto. Tudo isso é banhado pelas águas de março, que fecham o verão. Notemos ainda que os elementos ligados à ação do homem vão aumentando ao longo da canção:
"É um estrepe, é um prego,
é uma conta, é um conto
...
é o carro enguiçado, é a lama, é a lama."
Ora, a palavra "projeto" é bastante ligada ao plano da cultura. A natureza é o lugar do espontâneo, do acaso, que são o oposto do projeto, do cálculo. Já estamos num território não tão primitivo, o que é marcado pelo "carro enguiçado" na lama. Trata-se de um mundo entre a natureza e a cultura. Natural o bastante para que não tenha calçamento e fazer veículos atolarem e culturalmente modificado com a presença de carros e casas. É um mundo intermediário, de lama e de projeto, e onde a chuva cai como uma bênção. O projeto, no entanto, respeita o ciclo natural: só é possível começar de fato a construção da casa ("é o tijolo chegando") quando cessarem as chuvas. Com a terra seca e o outono, então uma nova vida pode lançar as bases. Mas infelizmente nós, paulistas, temos de rezar para que as águas de março não sejam promessa de morte e de desapropriação. 

Antonio Carlos Jobim

Maestro, compositor refinado e letrista, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim é autor de inúmeras canções, como "Wave" (1969), "Águas de março" (1972), "Passarim"(1985), "Sabiá" (1968), esta última feita em parceria com Chico Buarque. Um de seus primeiros trabalhos foi na gravadora Continental, onde reproduzia na pauta as melodias de compositores que não conheciam teoria musical. Em 1952, passa a fazer arranjos para as gravações. Nesse mesmo ano, sua carreira é impulsionada com a divulgação do samba "Faz uma semana", composto com João Stockler e interpretado por Ernani Filho. De 1953 data a gravação de suas primeiras músicas, entre elas "Teresa da praia" (com Billy Blanco), interpretada por Dick Farney e Lúcio Alves. O LP Canção do amor demais, de Elisete Cardoso (1958), considerado um marco na música brasileira, trazia várias composições de Tom e Vinícius de Morais e antecipava a bossa nova em vários aspectos. A música "Samba de uma nota só" (com Newton Mendonça) torna-se internacionalmente conhecida na interpretação de cantores como Ella Fitzgerald e Frank Sinatra. Tendo como parceiro Vinícius de Morais, ele escreveu um dos maiores sucessos de sua carreira, "Garota de Ipanema" (1962). Compõe para cinema, TV e lança vários álbuns. Falece em 8 de dezembro de 1994 de parada cardíaca.
 HYPERLINK "http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/poesias/tomjobim_aguasdemarco.htm" http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/poesias/tomjobim_aguasdemarco.htm

 O que fica na terra de uma árvore que se cortou quase rente.
 Árvore.
 Um personagem do folclore amazónico o nome certo é matinta pereira.
Conta a lenda, que à noite, um assobio agudo perturba o sono das pessoas e assusta as crianças, ocasião em que o dono da casa deve prometer tabaco ou fumo. Ao ouvir durante a noite, nas imediações da casa, um estridente assobio, o morador diz: - Matinta, pode passar amanhã aqui para pegar seu tabaco. No dia seguinte uma velha aparece na residência onde a promessa foi feita, a fim de apanhar o fumo. A velha é uma pessoa do lugar que carregaria a maldição de 'virar' Matinta Perera, ou seja, à noite transformar-se neste ser indescritível que assombra as pessoas. A Matinta Perera pode ser de dois tipos: com asa e sem asa. A que tem asa pode transformar-se em pássaro e voar nas cercanias do lugar onde mora. A que não tem, anda sempre com um pássaro, considerado agourento, e identificado como sendo 'rasga-mortalha'. Dizem que a Matinta, quando está para morrer, pergunta:' Quem quer? Quem quer?' Se alguém responder 'eu quero', pensando em se tratar de alguma herança de dinheiro ou jóias, recebe na verdade a sina de 'virar' Matinta Perera.
 Canhao, desfiladeiro.
 Quando o madeiramento para colocar o telhado fica inteiramente armado é a oportunidade de fazer a Festa da Cumeeira. Ramos e palmas são amarrados em várias partes salientes do madeiramento, os operários, quando menos, pedem as cervejas comemorativas se o proprietário não deseja festejar com desafogo.
 Fora do comum, absurdo.
 Varado.



Liderança e Gestão Cinco lições de ouro

Liderança e Gestão
Cinco lições de ouro





Lê as 5 lições e escolhe a moral (das 5 que aparecem no fim) de cada uma das histórias.



Lição Nº.1 - Gestão do Conhecimento 

Um homem entra no banho enquanto a sua mulher acaba de sair dele e se enxuga. A
campainha da porta toca. Depois de alguns segundos de discussão para ver quem
iria atender, a mulher desiste, enrola-se na toalha e desce as escadas. Quando
abre a porta, vê o vizinho Bob na soleira. Antes que ela possa dizer qualquer
coisa, Bob diz:
- Dou-lhe 800 se deixar cair essa toalha.
Depois de pensar por alguns segundos, a mulher deixa a toalha cair e fica nua.
Bob, então, entrega-lhe os 800 prometidos e vai-se embora. Confusa, mas
excitada com sua sorte, a mulher enrola-se novamente na toalha e volta para o
quarto. Quando entra no quarto, o marido grita do chuveiro:
- Quem era?
- Era o Bob, o vizinho da casa ao lado - diz ela.
- Óptimo! Deu-te os 800 que me estava a dever?

Moral da história:

Lição Nº.2 - Chefia e Liderança 

Dois funcionários e o gerente de uma empresa saem para almoçar e na rua
encontram uma antiga lâmpada a óleo. Esfregam a lâmpada e de dentro dela sai
um génio. O génio diz:
- Só posso conceder três desejos, por isso, concederei um a cada um de vós.
- Eu primeiro, eu primeiro - grita um dos funcionários - Queria estar nas
Bahamas a pilotar um barco, sem ter nenhuma preocupação na vida!
Puf! E lá se foi.
O outro funcionário  apressa-se a fazer o seu pedido:
- Quero estar no Havaí com o amor da minha vida e um provimento interminável
de pinas coladas!
Puf e lá se foi.
- Agora você - diz o génio para o gerente.
- Quero que aqueles dois voltem ao escritório logo depois do almoço - diz o
gerente.

Moral da História:


Lição Nº 3 - Zona de Conforto
Um corvo está sentado numa árvore o dia inteiro sem fazer nada. Um pequeno
coelho vê o corvo e pergunta:
- Posso sentar-me como tu e não fazer nada o dia inteiro?
O corvo responde:
- Claro, por que não?
O coelho senta-se no chão, debaixo da árvore e relaxa. De repente, uma raposa
aparece e come o coelho.

Moral da História:

Lição Nº 4 - Motivação 

Em África, todas as manhãs, uma gazela ao acordar, sabe que deve conseguir
correr mais do que o leão se se quiser  manter viva.
Todas as manhãs, o leão acorda e sabe que deverá correr mais do que a gazela
se não quiser morrer de fome.

Moral da História:



Lição Nº 5 - Criatividade

Um fazendeiro resolve colher alguns frutos da sua propriedade. Pega num balde
vazio e segue para o pomar. No caminho, ao passar por uma lagoa, ouve vozes
femininas que provavelmente invadiram as suas terras.
Ao aproximar-se lentamente, observa várias raparigas nuas a banharem-se na
lagoa. Quando elas se apercebem da sua presença, nadam até à parte mais
profunda da lagoa e gritam:
- Nós não vamos sair daqui enquanto não se for embora.
O fazendeiro responde:
- Não vim aqui para vos espreitar, só vim dar de comer aos jacarés!

Moral da História:


1 É a criatividade que faz a diferença na hora de atingirmos nossos objectivos.
Deixe sempre o seu chefe falar primeiro.
Se compartilhares informações a tempo podes evitar exposições desnecessárias!
Pouco importa se fores gazela ou leão, quando o sol nascer deves começar a correr.
Para ficares sentado sem fazeres nada deves estar sentado bem no alto.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

"Galinhas" texto para preencher

Preenche o comprova com os teus colegas

Galinhas foram domesticadas .......10.000 anos

As galinhas foram domesticadas ........ primeira vez .........10.000 anos, na China, de acordo com uma análise ........ ossos fossilizados do animal, junto ao Rio Amarelo, no norte do País. De acordo com os biólogos do projecto, uma análise ao ADN prova que essas galinhas são da mesma linhagem que as actuais.

Segundo o estudo, as galinhas ter-....-....  espalhado pela Ásia, numa primeira fase, e terão chegado ao resto do globo ..... medida que se encontraram com outras espécies antigas de aves.“São resultados interessantes e que sug........ que as sociedades com práticas agrícolas variadas apareceram no norte da China à mesma .............. ("época") que no Próximo Oriente. Acreditamos que o norte da China foi uma das primeiras regiões ..... domesticar ..... galinha”, explicou MIchi Hofreiter, professor da Universidade de York, Inglaterra, e da Universidade de Postdam, Alemanha.

O estudo foi publicado no Proceedings of the National Academy of Science e sequenciou o AND mitocondrial de 39 ossos de galinhas descobertos em quatro sítios diferentes, todos no norte e este central da China. A maioria dos animais de estimação e domesticados de hoje começaram a ser recolhidos do seu habitat selvagem ......... 8.000 anos, ........ medida que o Homem começou ...... tornar os seus acampamentos nómadas em aldeias permanentes.
As duas excepções são os cães, domesticados ......... 15.000 a partir de lobos selvagens asiáticos, e as ovelhas, que apareceram no Médio Oriente ....... 10.000 anos.

Foto: Smoobs / Creative Commons







Galinhas foram domesticadas há 10.000 anos

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Estocolmo: exemplo para o ambiente global


Como na EOI de Ourense se está a preparar uma viagem a Estocolmo para em breve, aqui vos deixo uma reportagem, de há duas semanas, sobre essa cidade:





Ambiente: O exemplo da Suécia

É fácil ficar verde de inveja, ao fim de três dias em Estocolmo. Mas quando bebemos café numa esplanada sem darmos pelos carros silenciosos é que acreditamos: a cidade vai mesmo estar livre de combustíveis fósseis até 2040

3 comentários


A consciência é um sentimento curioso. Não se acredita que a primeira coisa que uma pessoa pensa ao entrar num avião seja a quantidade de emissões de CO2 que aquele voo  produzirá. Pensará no companheiro de viagem que vai sair-lhe na rifa, na sanduíche de sabor indefinido do almoço, nas pastilhas elásticas que ficaram esquecidas na mochila e farão falta, na descolagem. Mas quando o programa de trabalho leva no título a palavra "sustentabilidade" e as frases "tratamento de resíduos" e "planeamento urbano verde", embarca-se a fazer contas às milhas dos voos entre Lisboa e Estocolmo, via Frankfurt. E agradece-se a existência de páginas na internet que calculam a pegada ecológica antes de se conseguir dizer "alterações climáticas".
A má consciência esvanece-se no Arlanda Express, o comboio que liga o aeroporto ao centro da capital sueca. Desta vez, a viagem produz zero emissões. São vinte minutos embalados 100% a energias renováveis, estamos a ler num ecrã que alterna palavras com tremas e mensagens em inglês quando aparece uma mulher-"pica" simpática que risca o bilhete com uma esferográfica.
Uma outra mulher há de levar-nos num táxi até ao Scandic Sergel Plaza. O hotel é vizinho da praça Sergels Torg, uma zona comercial onde os prédios debitam milhares de watts de luz. Mas como nos avisaram que havemos de conhecer as abelhas que vivem no telhado, e comer ao pequeno-almoço o mel produzido por elas, entramos no quarto com o radar verde no máximo. Zero frasquinhos com champôs e geles de banho? Checked. Aquecedor de toalhas para não ser necessário mudá-las todos os dias? Checked. Caixote de lixo com separadores para restos de comida, papel e embalagens? Checked. E nem o hóspede mais distraído vai deixar de ler o cartaz pendurado ao lado do espelho de corpo inteiro: "Lá fora está vento e chove? Ótimo. Este quarto é alimentado pela água e pelo vento."
Todos para Estocolmo!
Na manhã seguinte não chove, mas somos surpreendidos pelo frio (5 graus, brrr!) e por revoadas de folhas secas. A caminho da sede da Agência para a Proteção do Ambiente (APA), num autocarro movido a biogás (produzido com metano dos esgotos e lixo orgânico), Per Sjöberg, funcionário do centro de imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, conta como se lembra bem de terem demolido uma grande parte de Estocolmo, nos anos sessenta. No lugar dos velhos prédios ergueram apartamentos energeticamente eficientes.
É também ele quem conta que falta construir muitos mais, porque todos os anos a cidade recebe 20 mil novos residentes, entre recém-nascidos e emigrantes. Dali a dois dias, a nova ministra do Clima e do Ambiente, Asa Romson, dos Verdes, haveria de lamentar o êxodo rural. A também vice-primeira-ministra diria que são, sobretudo, as mulheres jovens a mudar-se para a grande cidade. A tendência é nítida. Dá-se por elas em grupos, na rua. Algumas empurram carrinhos de bebé - mas são tantas quantos os homens, porque, por aqui, o pai tem direito ao mesmo tempo de licença parental que a mãe: 240 dias.
São estas novas famílias que têm comprado casa em Hammarby Sjöstad, bairro que integrou a consciência verde no planeamento urbano, que visitaremos nessa tarde. Mas, por agora, estamos a chegar ao edifício da APA. Recebemos um cartão com uma mola da roupa de madeira, e, quando nos falam do objetivo geracional, um dos 16 decididos pelo Parlamento há 15 anos, trilhamos um dedo a prendê-la na lapela.
O lixo, esse grande negócio
Em 1999, os deputados comprometeram-se a legislar no sentido de não deixarem uma herança ambientalmente pesada. Sanna Due Sjöström, funcionária da APA e líder do grupo de resíduos do conselho de ministros escandinavo, fala na morte do mantra. "Reciclar, reciclar, reciclar." Hoje, prevenir a produção de lixo é o objetivo maior. A prevenção está no topo de uma pirâmide invertida, seguida da reutilização, preparação para a reutilização, reciclagem, recuperação de energia e destruição. Menos de 1% dos resíduos municipais vão para os aterros, diz Sanna, que se lembra de pôr o lixo num buraco, na floresta, aos 10 anos. "Hoje, o lixo é um grande negócio. Por isso, a questão, agora, é quem tem direito a recolhê-lo."
Tomando a família de Sjöström como exemplo, no dia a dia, os habitantes de Estocolmo separam os restos de comida do vidro transparente, vidro de cor, papel, jornal, cartão, embalagens, pilhas, lâmpadas e óleo alimentar, e pagam uma taxa pelo lixo indiferenciado - no ano passado, Sanna pagou 220 euros pela recolha semanal. Ao sábado, o ecoponto é o sítio onde os vizinhos se encontram, despejam os sacos e, muitas vezes, saem com uns trocos no bolso - as garrafas de plástico e as latas têm depósito desde 2006.
É assim que se consegue reciclar 90% do lixo doméstico, mas, se um dia for atingido o objetivo de 100%, as centrais de produção de eletricidade e calor terão de importar todo o lixo de que precisam. Neste momento, ele já não chega para as encomendas. Na Brista II, do grupo Fortum, queimam resíduos trazidos da Noruega e do Reino Unido, contará um dos engenheiros, justificando: "A atmosfera não está limitada por fronteiras nacionais."
O paraíso mora em Hammarby?
A falta de lixo é motivo de orgulho na APA, só pode. Isso e o facto de ele ser separado em 96% das casas e 82% das pessoas afirmarem que o fazem por quererem contribuir para uma sociedade "recicladora".
Em Hammarby Sjöstad ainda é mais simples. Situado a dez minutos de carro do centro da cidade, nas margens do lago Hammarby, em 1997 era uma área contaminada, cheia de sucateiras. A cidade precisava de mais casas e queria receber os Jogos Olímpicos de 2004. O programa de reconversão ambiental da zona era tão ambicioso que os promotores da candidatura previam que seriam batidos recordes à conta do ar puro. Mas  Atenas seria a anfitriã.
Estocolmo avançou à mesma com o projeto, e, dez anos depois, há 20 mil pessoas a morar em Hammarby, em prédios com oito andares, no máximo, para o sol chegar ao rés do chão. Quase não passam carros, porque um lugar de garagem custa 150 euros por mês e estacionar na rua 70 euros. "É caro de propósito", admite Malena Karlsson, relações públicas do projeto, "para as pessoas usarem transportes públicos e bicicleta."
Um passeio pelo bairro é, por isso, feito entre jardins, algaraviada de crianças a brincar nos recreios das creches e das escolas, varandas com espreguiçadeiras (não, não há marquises) e dezenas de bicicletas, quase sempre estacionadas ao pé dos ecopontos.
Contribuir até na casa de banho
Por aqui, os ecopontos recebem restos de comida, papel ou lixo indiferenciado. Quando estão cheios, é tudo aspirado debaixo da terra até um terminal da Envac, empresa que tem 70% da sua atividade fora da Suécia (incluindo no Parque das Nações, em Lisboa). Como o camião só vai ao terminal três vezes por dia, reduzem-se as emissões de CO2. Quanto ao destino dos resíduos, o papel é reciclado, o orgânico irá gerar biogás e o restante será incinerado para produzir eletricidade e calor.
Sabe bem falar de aquecimento central quando temos o nariz a pingar. Malena apercebe-se da ironia e conduz o grupo até ao centro de informação, onde quem aproveita para ir à casa de banho regressa a sorrir. Na porta, há um cartoon com a pergunta: "Sven, o que estás a fazer?", e um homem, numa retrete, a responder: "Estou sentado, a fazer biogás."
O cartoon e a frase "Obrigada pela sua contribuição!" fazem todo o sentido, neste bairro. O "modelo Hammarby" manda que 50% da energia usada pelos habitantes seja produzida por eles próprios - as águas residuais, por exemplo, são utilizadas na produção de aquecimento.
A água, escreva-se, é motivo de orgulho em Estocolmo, arquipélago com 14 ilhas. Num briefing na embaixada, em Lisboa, o conselheiro Sten Engdahl falou na pureza do lago Mälaren, frente à Câmara, e de como a água potável da cidade vem de lá. Prometemos-lhes beber um copo diretamente do lago, mas fica para o dia em que virmos um salmão ser pescado junto do Parlamento - consta que são os melhores do país, mas o pescador que ali encontramos todas as noites devia andar em maré de azar.
A poluição também se referenda
Teríamos mais hipóteses de ver animais selvagens na visita ao telhado do hotel, onde o alemão Frank Horst, antigo cozinheiro, colocou seis colmeias, há três anos. As abelhas alimentam-se das flores dos parques mais próximos, mas, em setembro, recebem sempre alguns quilos de açúcar para conseguirem resistir ao inverno. O frio matá-las-ia pela certa, diz Frank, mostrando rapidamente um quadro de uma das colmeias. Nem repara quando é picado pelas abelhas friorentas.
A vista é lindíssima. Com tanto verde das árvores, azul da água e amarelo dos edifícios mais antigos torna--se difícil acreditar que, há 60 anos, Estocolmo estava cinzenta por causa do aquecimento doméstico. Hoje, o fumo quase desapareceu. Oitenta por cento das casas são aquecidas por um sistema de distribuição em rede, e 80% da energia é renovável. Em 2040, prevê-se que a cidade esteja livre de combustíveis fósseis. Para tanto, há que virá-la para os peões. "Já há uma mudança de foco, nitidamente", diz Linda Persson, especialista em desenvolvimento urbano da Câmara. "Agora, as pessoas estão primeiro."
Em 2005, quando os deputados debatiam a hipótese de criar uma taxa de congestionamento para os carros que entram no centro, mais de 70% dos habitantes manifestaram-se contra porque achavam que era apenas uma maneira de encher os cofres. No ano seguinte, o "sim" passou à tangente no referendo. Mas, em 2013, mais de 70% considerava que a taxa é por uma causa justa. "Foi uma mudança completa", orgulha-se Gunnar Söderholm, diretor da divisão de Ambiente e Saúde da câmara, oferecendo uma fatia de karlsbaderbröd, um pão recheado com pasta de amêndoa que comprou para adoçar a boca aos jornalistas estrangeiros.
É só coisas boas. Como menos engarrafamentos é igual a menos poluição, o ar da cidade está cem vezes mais limpo do que em 1965. As receitas líquidas da taxa alimentam os transportes públicos e vão, em breve, ajudar à expansão da linha de metro. Não falamos de coisa pouca - o bolo chega aos 75 milhões de euros, por ano.
A casa do futuro vai ser assim
Estávamos verdes de inveja quando nos sentámos, nessa tarde, à mesa com a ministra do Clima e do Ambiente, que nos tirou os óculos cor-de-rosa. Falta discutir a dependência da energia nuclear na Suécia - 40%, lembrou Asa Romson - e os caminhos de ferro. "Não há comboios e foram construídas demasiadas estradas", lamenta.
Na manhã seguinte, é por uma autoestrada livre de portagens (são todas) que rumamos a Upplands Väsby, a norte de Estocolmo, para visitar a primeira casa passiva certificada da Suécia, que é também uma ZEB (sigla em inglês para edifício de emissões nulas).
Junto à Villa Björken, situada na fronteira de um bosque de bétulas (björken significa bétula), o grupo tenta não ficar parado por causa do frio, enquanto Michael Staffas, da Fiskarhedenvillan, chama a atenção para as características exteriores da casa: fachada em fibrocimento (não precisa de manutenção); telhado coberto de plantas (isola e "agarra" água da chuva); painéis solares para a eletricidade e as águas quentes (vendem energia no verão e compram no inverno).
Lá dentro, estão 22 graus, à custa da água que foi aquecida com energia geotérmica e agora aquece as paredes. Michael enumera os princípios fundamentais de uma casa passiva: bom isolamento; janelas "verdadeiras"; sistema de ventilação com recuperação de calor; envolvente do edifício estanque ao ar; e eliminação de pontes térmicas. "As casas do futuro vão ser todas assim", antevê, "ou, então, não alcançamos o objetivo zero emissões."
Compensar longe, na Índia
Da Villa Björken, onde os vidros triplos não deixam passar o som dos pássaros, partimos para o aeroporto de Arlanda, a uma curta distância de carro. É a última etapa da missão de explicar como Estocolmo foi considerada a primeira cidade europeia verde, em 2010 (distinção a que agora se candidatam Lisboa, Porto e Cascais).
No Arlanda, local de passagem de mais de 20 milhões de passageiros por ano, o objetivo é ambicioso: zero emissões de CO2 nas operações em terra, já em 2020. Não é uma utopia, dizem, porque, desde 2005, conseguiram reduzir 68% das emissões e 30% do consumo de energia. Adotaram os "voos verdes", sem arranques nas descolagens e nas aterragens. Mas trocar os atuais limpa-neves por outros que não usem combustíveis fósseis será o próximo desafio.
Entretanto, vão compensando as emissões investindo em projetos em países pobres. Neste momento, são parceiros, por exemplo, numa central de biomassa no Estado indiano de Andhra Pradesh - e convidam os passageiros a fazerem o mesmo. A página na internet do grupo Swedavia faz as contas às milhas dos meus quatro voos e determina: são quase 40 euros pela emissão de 973 quilos de CO2. Quem já ofereceu os créditos ao projeto na Índia também ajudou a construir a cozinha da escola local e a comprar dois riquexós para a recolha de lixo doméstico. E ficou bem com a sua consciência.


Ler mais: http://visao.sapo.pt/ambiente-o-exemplo-da-suecia=f801297#ixzz3JyqsIaHS

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Razões


12 razões para deixar de beber refrigerantes

O açúcar em excesso pode ter efeitos desastrosos na saúde, mas algumas fontes são piores que outras. Os refrigerantes estão no topo da lista negra. Aqui se resumem 12 razões para cortar com estas bebidas

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12 razões para deixar de beber refrigerantes
1 - Não promovem uma sensação de saciedade e estão fortemente ligadas com o aumento de peso
Os açúcares adicionados engordam... e em estado líquido ainda mais. Uma das razões para isto prende-se com o facto de o açúcar fornecer grandes quantidades de frutose, que não tem efeito na grelina, uma enzima produzida pelo estômago também conhecida como a "hormona da fome", ao contrário da glucose, encontrada nos alimentos ricos em amido.
O que acontece: quando se bebe um refrigerante, aumenta-se significativamente as calorias ingeridas, sem saciar a fome.
2 - Grandes quantidades de açúcar são transformadas em gordura pelo fígado 
O açúcar é composto por duas moléculas: glucose e frutose. A primeira pode ser metabolizada por todas as células, e enquanto a segunda apenas pelo fígado.
As bebidas açucaradas são a forma mais fácil e comum de consumir frutose em excesso. E quando isso acontece, o fígado, sobrecarregado, transforma a frutose em gordura. Com o passar do tempo, isto pode contribuir para uma doença hepática não relacionada com o consumo de álcool.
3 - O açúcar aumenta drasticamente a acumulação de gordura na barriga
O consumo de açúcar, em geral, torna-nos mais propensos a acumular gordura. A frutose em particular parece aumentar drasticamente a chamada gordura visceral, que se acumula nas camadas profundas do abdómen, envolvendo os órgãos internos.
4 - Pode causar resistência à insulina e levar à diabetes tipo 2
A principal função da insulina é conduzir a glucose do sangue para as células. Mas o consumo de refrigerantes leva a que as células tendam a tornar-se resistentes aos efeitos da insulina e, quando isto acontece, o pâncreas tem de produzir ainda mais insulina para remover a glucose da corrente sanguínea, o que leva os níveis de insulina a elevarem-se.
A resistência à insulina é, por sua vez, um passo em direção à diabete tipo 2 e a problemas cardíacos.
5 - Os refrigerantes não contêm nutrientes essenciais, apenas açúcar
Os refrigerantes equivalem a calorias "vazias", uma vez que não contêm nutrientes, vitaminas, minerais, antioxidantes ou fibra. Não acrescenta, nada ao regime alimentar exceto, claro... açúcar e calorias desnecessárias.
6 . Pode provocar resistência à leptina
A leptina é uma hormona produzida pelas células adiposas e tem como principal função a regulação do equilíbrio energético entre as calorias ingeridas e gastas. Os cientistas acreditam que a resistência a esta hormona seja uma das principais causas do aumento da gordura em humanos.
Vários estudos preliminares associaram a ingestão de açúcar, sobretudo frutose, à resistência à leptina em ratos.
7 - Pode ser viciante
Quando consumimos açúcar, é libertada dopamina no cérebro, responsável por uma sensação prazerosa. Estando o cérebro programado para procurar situações que levam à libertação de dopamina, torna-se evidente que o açúcar, assim como a chamada junk food, pode tornar-se um vício para pessoas com predisposição para a adição.
8 - Ligação ao risco de doenças cardíacas
A ingestão de açúcar começou por ser associada a problemas cardíacos nos anos 60/70. Desde então, vários estudos estabeleceram a ligação entre o consumo de refrigerantes ou bebidas muito açucaradas e o aumento de alguns dos fatores de risco para doenças cardiovasculares: açúcar no sangue, triglicéridos, colesterol.
9 -  Maior risco de cancro
O risco de cancro tende a aumentar paralelamente a outras doenças crónicas, como a obesidade, a diabetes tipo 2 e as doenças cardíacas.
Um estudo que envolveu mais de 60 mil pessoas concluiu que os que bebiam dois ou mais refrigerantes por semana tinham 87% maior probabilidade de vir a sofrer de cancro no pâncreas do que os que não consumiam este tipo de bebida. No período pós-menopausa, as mulheres que consomem grandes quantidades de refrigerantes também parecem correr maior risco de cancro do endométrio. 
10 - Um desastre para a saúde oral 
O açúcar, o ácido fosfórico e o ácido carbónico presentes das bebidas com gás criam na boa um ambiente propício à degradação da saúde dos dentes. Além disso, o açúcar providencia energia facilmente digerível às bactérias nocivas da boca.
11 - Aumento do risco de gota
A gota é uma doença caracterizada por inflamação e dor nas articulações, sobretudo no dedo grande do pé, que ocorre normalmente quando níveis elevados de ácido úrico no sangue se tornam cristalizados. A frutose é o hidrato de carbono que mais aumenta os níveis de ácido úrico e vários estudos observaram uma forte ligação entre as bebidas açucaradas e a gota.
12 - Aumento do risco de demência 
Investigações descobriram que um aumento do açúcar no sangue está fortemente associado a um risco maior de demência. Por outro lado, estudos em ratos mostraram que grandes doses de refrigerantes podem dificultar a memória e a capacidade de tomar decisões.


Ler mais: http://visao.sapo.pt/12-razoes-para-deixar-de-beber-refrigerantes=f800581#ixzz3JdJGNs4C

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Projeto Escandinávia 1

Projeto:
Antologia de narrativa breve escandinava contemporânea. Microcontos.


Hús Nr. 451 © 2009 by Gyrdir Eliasson. 

A casa n.º 451

It’s old and dilapidated, with dirty, tattered curtains covering the windows, the roof on the verge of collapse and the antenna dangling from the gable on its wire. There are cracks in all the outside walls and the paint, once white, is now stained brown and flaking off in many places.

É velha e dilapidada, cortinados sujos e desleixados cobrem as janelas, o telhado à beira do colapso e a antena a balançar do telhado sobre o seu cabo. Há fendas em todos os muros exteriores e a tinta, uma vez branca, está agora manchada de castanho e descascada em muitos lugares.

The garden is a jungle: trees and hedges growing unchecked, moss in the grass on the lawn, dandelions and daisies everywhere, and an ancient swing hanging from a tree. One of its ropes has frayed through, leaving it to trail on the ground, not moving except in gales when it drags over the grass with a mournful creaking.

O jardim é uma selva: árvores e sebes a crescer sem controlo, musgo na erva da relva, dentes de leão e malmequeres por todo o lado, e um velho balouço a pendurar de uma árvore. Uma das suas cordas está desfiada, deixando um caminho no chão, e não se movendo senão com os vendavais quando se arrasta sobre a erva com um rangido triste.

No one has lived here for a long time. The rusty roof rises against the rust-red backdrop of the mountain. I’ve asked many people who lived in this house but no one seems to have heard of it ever being occupied. It’s as if it was simply built and then abandoned without ever becoming anyone’s home. I notice that the glass in the living-room window is cracked right across and the pane in the front door is broken. The wind gusts in through the gap in bitter weather.

Ninguém vive aqui de há muito tempo. O soalho enferrujado levanta-se contra o pano de fundo vermelho-ferrugem da montanha. Tenho perguntado a muita gente quem viveu nesta casa, mas ninguém parece ter ouvido que ela fosse alguma vez ocupada. É como se simplesmente fosse construída e logo abandonada sem nunca chegar a converter-se na casa de alguém.

 *

Yet someone must at least have intended to live there. On the wall by the living-room window there is a green copper plaque bearing the inscription Built 2010.

Now, as I write this, it is 2072. That’s sixty-two years. Not such a long time in the life of a house, yet no one knows anything. Last summer I bought the house next door, hence my curiosity, but I can’t find any information. When I glanced from the antenna dangling against the wall to the big satellite dishes sprouting like huge mushrooms on my own roof, I couldn’t help smiling.

“Dad,” say my daughters, “why is the house next door so ugly?”

“I don’t know, girls,” I reply and carry on writing. I’m always writing. Yet writing has become obsolete, a bit like an old house built in 2010, where no one now lives.

“Can’t you just give it up?” asks my wife, meaning my writing. She finds it bizarre; no one does it, especially not in a town like this.

“You know no one publishes books any more,” she adds.

“It doesn’t matter. I have to write.” I say it defiantly.

“Oh well,” she says with a sigh and carries on watching the 200-inch screen that covers almost the entire wall of our living room. No books are allowed on these walls.

*

I sit in my little room writing. I write by hand on paper, as people used to before. I’ve put aside my featherlite-computer; it will soon be obsolete anyway, like everything else. Every day something becomes obsolete. It’s a word we live in fear of nowadays. Every time the word is invoked people shrink with secret dread.

Dusk is falling. I look out of the window, through the super-glass that they use in spacecraft; everyone has it now. The sycamores in the garden are beautiful, yet many people regard them as obsolete and won’t have any trees on their plots. I gaze through the foliage at the derelict house. The curtains in the window facing me look as if they’re made of canvas, hanging any which way from their rings, spotted with grime. All of a sudden I think I glimpse a faint glow behind them, as if someone has gone into the house and turned on a light or even lit a candle in spite of the safety ban.

I decide to go out into the garden and, rising from my desk with all its papers, recall some words I once read: Why sit down to write if you haven’t lived?

I walk through the living room. The bluish glare from the giant screen dominates the room, filling our wall with huge, sinister human forms. We’re invaded by total strangers every evening, here in our own home. My wife is sitting on the white sofa, utterly enthralled by these uninvited guests.

“Where are the girls?” I ask.

She doesn’t answer immediately.

I repeat my question.

“They’re in their room, playing in virtual reality.”

“Of course,” I say.

As I put on my jacket I wish I could go back at least sixty years in time, to the year 2012. That would have been two years after the house next door was built, and there would have been nothing but grass here where I’m standing now in the hall.

But I don’t know how to time-travel.

My jacket is gray, made of some strange artificial fiber that glitters in the dusk. I don’t find it particularly comfortable but my wife wants me to wear it. Apparently it’s the fashion. Once out in the garden I walk among the sycamores and wonder how long I’ll be allowed to keep them. Most people want the trees removed. Why has the house next door never been knocked down?

It’s allowed to remain, out of sync with all the other houses; the straight rows, all similar in character, or rather in their lack of character.

Because I haven’t erected a fence between the gardens, I can walk straight over on to the other lawn. The grass there is very high; it’s never mown, and the moss is as soft as a carpet underfoot.

As I step up on to the moldering concrete pavement outside the front door, I seem to hear something, like the whispering of many voices.

I could be mistaken. But now I notice that behind the living-room curtains there is a glow from a small flashlight or candle. Quite suddenly, the curtains appear new, the pavement no longer moldering, the house freshly painted, and it is 2012 again. I stand there on the steps as if I live in the house now and have just come out for a breath of fresh air before going back inside to talk to my family by the fire.

*

I stand there for some time before the year 2072 returns. As one would say of a vintage, it’s not a good year. There’s been no real fermentation. I feel I’d rather live in 2012. There’s a slight breeze and I see the rope of the swing stirring, though it would take a much stronger gust to make it drag over the grass with that creaking sound that I’ve come to know so well.

I hear the whispering again from inside. After glancing over at my house, which now seems to belong to someone else, I take hold of the front door handle. It’s locked. At this point I do something strange; I reach into my pocket and take out a key which I insert in the lock, though it’s hard to locate in the dusk.

The key fits. I open the door and step inside. There’s no smell of damp as I was expecting and now I can clearly see the glow lighting up the hall from the living room. I call out in a low voice:

“Is there anybody there?”

That’s all I remember.

 

“Hús Nr. 451,” in Milli Trjánna (Akranesi: Uppheimar, 2009). © 2009 by Gyrdir Eliasson

By arrangement with the author. Translation © 2012 by Victoria Cribb. All rights reserved.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Filmes on line

http://www.filmesonlinegratis.net/

http://portacurtas.org.br/

Os estudos e as escolas (vocabulário)


Lê o artigo e tenta explicá-lo com as tuas palavras.
Averigua o significado do vocabulário mais abaixo.



Copianço  generalizado.
Cábulas, são preparadas minuciosamente antes dos exames. Alunos recorrem às mais diversas técnicas para copiar nos testes.





Um auricular escondido no cabelo comprido, um micro "auxiliar de memória" em tamanho de cromo, uma mensagem no telemóvel, o espírito santo de orelha. As técnicas são às dezenas e dependem das oportunidades e da criatividade de cada um.  (...)

Posta a nu, a prática da fraude escolar revela sobretudo o quão enganado anda meio mundo. O objectivo dos estudantes não é adquirir competências, mas antes conseguir o canudo o mais facilmente possível. "Todos procuram copiar quando necessitam", o que, segundo o sociólogo, "denuncia uma frequência escolar mais orientada para o sucesso certificado e nominal do que para o sucesso substantivo e real".

(...)

Atentando nos hábitos, o estudo revela que 95% dos universitários que assumem copiar já o faziam no secundário. Mas apenas metade inicia a burla no primeiro semestre. No final do primeiro ano, são já dois terços os copiantes activos, que ascendem a 80% depois de 18 meses nos anfiteatros do saber.

Sabe-se ainda que os rapazes são mais adeptos da fraude do que as raparigas e que as engenharias são as maiores produtoras de cabulice. Cerca de 60% dos futuros engenheiros que completam o curso com copianço arranca logo na primeira ronda de exames, sendo também destes cursos os alunos que mais recorrem à cabula pessoal (61%). O uso da solidariedade dos colegas é mais forte em ciências sociais (77%) e da natureza (73%).

(...)

Há quem não copie quando está preparado ou é impedido de o fazer pelo professor. E há quem nunca o faça por medo de ser apanhado (44%). Apenas 41% dizem não à cábula por valorizarem a genuinidade dos resultados. "De uma forma geral, não há muitos bloqueios morais. Quem não copia não o faz por não poder ou não precisar".

Culpa do sistema? Sim, porque começa por favorecer "o sucesso estatístico". Depois, desmotiva a participação na aula, que obrigaria ao estudo permanente e à consulta de material extra. Por fim, rodeia o exame de todo um ritual inquestionável.

http://jn.sapo.pt/2006/05/28/tema_de_domingo/copiancogeneralizado.html
a carteira o quadro, ...
o professor, o lente: o professor (doutor),... (tratamento)
dar aulas/explicações:
frequentar aulas:
ser formado em:
tirar um/o curso de:
um curso, uma acção:
segundo ano:
uma cadeira, uma disciplina:
cábula:     trapaça escolar (também adjtvo preguiçoso, manhoso)
cabular:     trapacear nas aulas
crachá: 
marrar:     decorar, estudar mt
passar trabalhos:
esclarecer dúvidas:
exames, provas, testes:
recuperação, remediação:
lançar as notas:
classificações, valores:
cadeira, disciplina, matéria:
passar, aprovar /reprovar, chumbar:
Escola, internato, externato, ...
Faculdade, reitoria, lente, a praxe...

O QUE É A PRAXE ACADÉMICA? por Rui Pinto
"A Praxe Académica é um conjunto de tradições geradas entre estudantes universitários e que já há séculos vêm a ser transmitidas de geração em geração. É um modus vivendi característico dos estudantes e que enriquece - nem todas as pessoas pensam igual - a cultura lusitana dos estudantes com tradições criadas e desenvolvidas pelos que nos antecederam no uso da Capa e Batina. Praxe Académica é cultura herdada que talvez seja transmitida às próximas gerações."
Vid. O que é a praxe académica?

Somos responsáveis da escola que temos?